2007
Participo pela primeira vez do Campus Party aos 42 anos. Enquanto preparo a janta, faço uma imagem no PowerPoint, gravo como jpg e envio rapidamente para um Concurso Cultural. Ela foi escolhida. Ganho uma passagem com direito a acompanhante para ir para Valência - Espanha, participar do Campus Party. Convido meu marido para ir comigo, mas ele não quis, então meu filho de 13 me acompanha. Todos acham que ele é o menino prodígio e eu a mãe alheia às tecnologias... "deixa quieto". É difícil para as pessoas entenderem essa lógica.
2008, 2009, 2010
4 anos consecutivos acampando, aprendendo, compartilhando com os dois filhos a tiracolo. Nesse tempo, tento entender a Campus Party e chego a conclusão de que ela é um grande código aberto, a começar pelos conteúdos. Nada de ambientes fechadinhos, com inscrições, certificações e com cara de escolinha. Aqui rola tudo ao mesmo tempo. É aquele barulhão, porque todos falam ao mesmo tempo, como se fosse uma grande Babel e são várias línguas: inglês, espanhol, português, linguagem do desenvolvimento, da robótica, do sofware livre,das mídias sociais e por aí afora. E o povo ouvindo, gravando, fotografando, anotando em seus notebooks, caderninhos, celulares, twittando. Essa é a diversidade campuseira. E prá quem está acostumado a viajar com pacotes turísticos, onde tem um guia turístico e sempre uma van esperando pra te conduzir - esqueça - isso não é Campus Party. Eu assemelho Campus Party àquele mochilão que você tem que fazer roteiros e pesquisas e descobrir um jeito peculiar de fazer as coisas. E eu curto demais tudo isso e foi bom porque meus filhos também passaram nesse estágio de autonomia de aprendizado.
2017
10 anos se passaram da primeira vez que pisei no Campos Party. 52 anos. Sou convidada a dar aulas de robótica em substituição as minhas aulas de cultura digital. Era isso, ou em breve seria substituída. Sim... medo, frio na barriga, será que ainda tá em tempo de aprender algo novo? mas a gente vai com medo mesmo. Aprendo rapidamente a mexer em motores, sensores, programação, mais precisamente em 4 horas de treinamento. É um super desafio, mas dá tudo certo. E por falar em desafios, nesse mesmo ano, completo 25 anos de casada e para comemorar, faço um mochilão para Estados Unidos e Canadá com as amigas deixando o marido em casa, que morre de medo dessas aventuras. Lembro das condicionais na programação: marido vai? Se sim, ótimo. Se não, vou sem ele mesmo. Detalhe: Mesmo com um inglês pra lá de precário, inventei um roteiro que acho que nunca ninguém fez, comprei passagens, fiz reservas de hotel/hostel e deu tudo certo.
2020
Tenho 55 anos e dois empregos: Ong e escola particular. Preparar material específico para cultura digital e robótica em meio a pandemia, para os dois lugares foi insano, pois envolve a viabilidade técnica. Sem contar que tem casa e comida para higienizar, marido, filho em home office e muita comidinha para fazer. Escrevo uma história em 10 capítulos chamada LifeNote para meus alunos da Ong, ressuscito o blog, crio missões e trabalho o mesmo projeto na escola particular, porém dentro de outra realidade e insiro simulador de robótica portal de programação. Gravo dezenas de vídeo aulas. Roteiros, etc... Sigo extenuada até o final do ano e tomo um decisão de que não quero me manter nos dois empregos.
2021
A pandemia não acaba, e antes que tenha uma overdose tecnológica, resolvo abrir mão de um dos meus empregos, começando o ano com o meu pedido de demissão na escola particular onde trabalhei por 10 anos. Mantenho-me na Ong com a cultura digital, mas me convido para assumir o projeto de hidroponia, na cara e na coragem. Faço cursos sobre soluções nutritivas e hidroponia. Nesse interim, meu filho compra uma máquina de café e eu olho para aquelas cápsulas, e fico pensando no meio ambiente, no descarte. E vou testando formulações, método kratly, cápsulas, caixas de leite, espumas fenólicas, sementes. E não é que deu certo? Hortas em caixa de leite. Implanto o método, e agora além das aulas robótica e programação, também dou capacitação em hidroponia virando também a "professora do alface". Nesse mesmo ano, lanço pela Amazon o livro "Desconstrução" (https://amz.onl/eeQkQeG) onde relato minha experiência de ser uma mãe evangélica tradicional que sai do armário da religiosidade para receber em amor meu filho gay, pois essa homofobia vivida no nosso país tem me tirado o sono.
Certa vez a Campus Party adotou a hashtag #Somethingbetter, onde devemos procurar extrair da vida o que ela tem de melhor e também melhorar a vida de outras pessoas é por isso que sigo buscando coisas novas, aprendizados, compartilhamentos, enfim, viver sem medo e com leveza, independente da idade, porque lugar de mulher é onde ela quer estar.
#somethingbetter